domingo, 24 de abril de 2011

Ressuscitou de verdade!

Celebrar a Páscoa é chegar ao encontro com Cristo vivo


Uma antiga e sempre atual saudação para o Tempo Pascal resume em poucas palavras a fé dos cristãos: “Cristo ressuscitou”! A resposta confirma a convicção: “Ressuscitou de verdade”! Pode ser retomada na Liturgia e repetida nos cumprimentos entre as pessoas e, mais ainda, pode ser roteiro de vida! É o nosso modo de desejar uma Santa Páscoa a todos, augurando vida nova e testemunho vivo do Ressuscitado, com todas as consequências para a vida pessoal e para a sociedade.

Celebrar a Páscoa é penetrar no mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nestes dias de Semana Santa salta à vista Seu modo tão divino e humano de viver a entrega definitiva. “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). É a entrega livre daquele de quem ninguém tira a vida, mas se faz dom de salvação.

Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus, oferece o testemunho de inigualável maturidade, na qual se encontra a referência para todos os seres humanos. “Os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam: Ninguém jamais falou como este homem” (Jo 7, 45-46). Encontrá-Lo é descobrir o caminho da realização pessoal. Mas seria pouco considerá-Lo apenas exemplo a ser seguido. “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). O homem verdadeiro é Senhor e Salvador. N'Ele estão nossas esperanças e a certeza da ressurreição. Mais do que Mestre ou sábio de renome, n'Ele está a salvação.

Seus apóstolos e discípulos, antes temerosos diante das perseguições, tendo recebido o Espírito Santo, sopro divino do Ressuscitado sobre a comunidade dos fiéis, tornaram-se ardorosos anunciadores de Sua ressurreição e de Seu nome. Basta hoje o anúncio de Cristo: “Que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes. “Quando ouviram isso, ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: Irmãos, que devemos fazer? Pedro respondeu: “Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2, 36-39).

Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo há de voltar! O que parece simplório é suficiente, pois daí nascem todas as consequências: vida nova, alegria perene, capacidade para se levantar das próprias crises e pecados, amor ao próximo, vida de comunidade, testemunho corajoso da verdade, vida nova na família cristã, compromisso social, serviço da caridade! Tudo isso? Sim, na Páscoa de Jesus Cristo está o centro da fé cristã e a fonte de vitalidade, da qual gerações e gerações de cristãos beberam como de uma fonte verdadeiramente inesgotável.

Celebrar a Páscoa é ir além da recordação dos fatos históricos, para chegar ao encontro com Cristo vivo. Nós cristãos O reconhecemos hoje presente, fazendo arder os corações, vamos ao Seu encontro nos irmãos, especialmente na partilha com os mais pobres, acolhemos Sua palavra viva, lida da Sagrada Escritura e proclamada na liturgia, sabemos que Ele permanece conosco se nos amamos uns aos outros e está vivo na Igreja, quando se expressam os sucessores dos Apóstolos e O buscamos na maior exuberância de Sua presença, que é a Eucaristia. Este é nosso documento de identidade!

Com o necessário respeito à liberdade de todas as pessoas, queremos hoje dizer a todos os homens e mulheres, em todas as condições em que se encontram, que as portas estão abertas, mais ainda: escancaradas. Se quiserem, aqui está o convite para a maior de todas as comemorações: “Celebremos a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da maldade ou da iniquidade, mas com os pães ázimos da sinceridade e da verdade!” (I Cor 5, 8). É Páscoa do Senhor! Feliz, verdadeira e santa Páscoa da Ressurreição!




Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

Não desista do Amor...não desista, depois da morte, veio a vida nova, o Ressuscitado...

Luís Fernando Veríssimo

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.


Um texto para a pessoa que a cada dia muda e conquista meu coração, que me dá sempre um novo coração para amar, trazendo o Amor dos Amores em minha vida e nos amando e nos encontrando Nele... Pra você! Como você diz, eu tabém digo: Obrigado mesmo por estar em minha vida!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Páscoa no nosso mundo particular

Um tempo que nos ajuda a ler as páginas de nossa vida


A Páscoa é o dia mais importante para os cristãos, pois comemora a Ressurreição de Jesus Cristo, a passagem da morte para a vida. A Igreja celebra a Morte redentora de Jesus e a Ressurreição d’Ele, por meio da qual a esperança de uma vida nova foi resgatada. Pensar em morte e ressurreição, quando gozamos de plena saúde, pode parecer viver alguma coisa que está muito além do nosso tempo. Afinal, espera-se por algo que somente deverá acontecer após a nossa morte...

O tempo – que antecede a Páscoa – é chamado de Quaresma, período de especial preparação, no qual a Igreja caminha com os fiéis para a prática da conversão cotidiana e mudança de vida. Pode-se pensar que o tempo quaresmal é para ser vivido apenas por aqueles que estão na Igreja, para os “carolas”, chamados por alguns de radicalistas ou retrógrados. Mas esse tempo de “retiro” nos ajuda a ler as páginas de nossa vida sob a luz d’Aquele que nos chama a nos aproximarmos d’Ele. Além da nossa alma, muitas outras coisas precisam ganhar vida nova em nós, tanto no convívio como nas responsabilidades e procedimentos.

No decorrer de nossa vida percebemos que, muitas vezes, somos influenciados por situações ou pessoas. Algumas influências são positivas; outras, nem tanto. Sem muito esforço, notamos que aquilo que antes era importante, hoje deixou de sê-lo; que o que era tido como falta grave, com o tempo, passou a ser tido como natural para muitos, mesmo que isso implique no prejuízo de outrem; não importa, desde que se obtenha algum lucro. Da mesma forma, o que era defendido com ardor – como, por exemplo, a vida – passou a ser considerada, muitas vezes, como estratégia de marketing sócio-político.

Às vezes, aceita-se, com tranquilidade, algumas questões polêmicas, as quais sutilmente minimizam o peso de um compromisso. Se houver repulsa quanto a esses conceitos, não se hesitará em condenar a Igreja como aquela que atravanca o "progresso". Assim, a vida vem sendo mergulhada num mundo cinzento, com a falta de esperança e de valores.

É interessante notar que acontece também uma grande mobilização do comércio nas grandes celebrações cristãs. Para a indústria e o comércio, os quarenta dias, que antecedem a Páscoa, significam preparar-se para uma maior produção de chocolate. Para a imprensa, significa noticiar o crescimento das vendas – comparadas ao ano anterior – e o corre-corre nos supermercados e lojas. E o comércio se transforma em grandes estandes ofertando uma imensa variedade de ovos de chocolate, que seduzem crianças e cujos preços assustam os pais. Sedadas pelas doces abordagens, promovidas pelo comércio, muitas pessoas se limitam a se recordar das festas cristãs somente como tempo para se presentearem.

Não se pode negar que somos também envolvidos por toda essa articulação vinculada pela mídia – associada às estratégias do comércio. Neste ano, podemos mudar este cenário buscando viver essas celebrações de forma diferente, mudando nossas vidas e atitudes.

Muitos fiéis aguardam, em vigília, a Ressurreição de Cristo. Nós devemos esperar por isso e nos abrir para que essa ressurreição também aconteça em cada um de nós, em cada mundo particular, em nossa maneira de pensar e de agir. De forma a permitir que esta mesma ressurreição brilhe em nossos olhos para que percebamos nossa própria realidade. Dessa maneira, pouco a pouco, percebemos que o que deve nos animar não é somente o instinto de sobrevivência, mas o Espírito Santo de Deus, que nos sustenta e nos estimula a crescer na graça de sermos filhos do Altíssimo.

Um abraço!


Dado Moura
contato@dadomoura.com

Dado Moura é membro aliança da Comunidade Canção Nova e trabalha atualmente na Fundação João Paulo II para o Portal Canção Nova como articulista. Autor do livro Relações sadias, laços duradouros
Outros temas do autor: www.dadomoura.com
twitter: @dadomoura
facebook: www.facebook.com/reflexoes

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Só por Ti Jesus quero me derramar... Só por Ti Jesus quero me consumir...


Hoje vim, nesta sexta-feira, agradecer ao coração de Jesus Cristo, a Deus Pai, Deus Espírito Santo pela minha vida, por todos os acontecimentos, por toda a minha história... Entregando mais uma vez o meu coração a este Deus de Amor, pois todos os dia é dia de entrega, de converter os coração a este Amor que pulsa por nós, a este que se consumiu na cruz e nos deu vida nova ao ressuscitar. Quero me consumir só por ti Jesus, me consumir de Amor, assim como diz a cançao de Eugenio Jorge, como vela que queima no altar. Me derramar só por ti Senhor, como rio se entrega ao mar... e agora lhe pesso senhor, como se fosse o último dia de minha vida, mas contigo nunca há o útilma dia e sim a continuação, a continuação que é a vida eterna e Hoje quero gritar: Só por ti Jesus, quero me derramar... Pois tu és o meu amparo, o meu refúgio, és alegria de minha alma. Só em Ti repousa a minha esperança, não vacilarei e mesmo na dor, quero seguir até o fim. Jesus, eu confio eem vós!

Obrigado senhor por esta alegria que tenho ao estar em teu lado e mesmo na dor quero seguir... Te amando, Te adorando, me consumindo interiramente a Ti... Fica comigo Senhor! Eu te Amo eterno de minha alma! Jesus Cristo!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Sonho de Dom Bosco - Parte 1 - Céu

O Céu







A noite de 22 de dezembro [de 1876] ficou memorável no Oratório. Foi um pouco antecipada a hora da oração. Reuniram-se no locutório os estudantes, os artesãos e todas as pessoas da casa. Dom Bosco tinha prometido falar no domingo anterior, mas não pudera fazê-lo. Imagine-se a expectativa geral! Subiu à cátedra, saudado por palmas entusiásticas, como acontecia sempre que dava daquele modo a "boa noite" à comunidade inteira. Fez sinal de que ia falar e imediatamente fez-se completo silêncio.

Na noite em que estive em Lanzo, chegada a hora de repousar, aconteceu-me que tive o seguinte sonho. É um sonho que não tem nenhuma relação com outros sonhos...

São coisas muito estranhas. Mas para meus filhos não tenho segredos; abro-lhes inteiramente o coração. Pensai o que quiserdes desse sonho. Como diz São Paulo, quod bonum est tenete [conservai o que é bom], se alguma coisa encontrais nele que seja de proveito para vossa alma, sabei aproveitar-vos dela. Quem não quiser crer, que não me creia, pouco importa; mas ninguém jamais zombe das coisas que vou dizer.

Peço-vos, ainda, que não o conteis nem o comuniqueis por escrito aos que não são da casa. Aos sonhos pode-se dar importância que sonhos merecem, e os que não conhecem nossa intimidade poderiam formar juízos errôneos, vendo as coisas de modo diferente do que são na realidade. Não sabem eles que sois meus filhos, e que sempre vos digo tudo o que sei, e às vezes até mesmo o que não sei (risos gerais). Mas o que um pai manifesta a seus filhos queridos para o bem deles, deve ficar entre o pai e os filhos, e não passar adiante. E ainda por outro motivo: é que em geral, quando se contam essas coisas fora, ou se desfiguram os fatos ou se conta apenas uma parte deles, e esta mesma mal entendida; de onde nasce dano, pois o mundo desprezaria o que não deve ser desprezado.

Deveis saber que ordinariamente os sonhos se têm dormindo. Ora, na noite de 6 de dezembro, enquanto eu estava no meu quarto, não recordo bem se lendo, ou se dando voltas pelo aposento, ou se me havia já deitado,comecei a sonhar.

Logo me pareceu estar sobre uma elevação de terreno, ou colina, à beira de uma imensa planície cujos confins a vista não alcançava, pois se perdiam na imensidão; era toda azulada como o mar calmo, embora o que eu visse não fosse água; parecia um cristal límpido e luminoso. Sob meus pés, por trás de mim e dos lados via uma região à maneira de um litoral à margem do oceano.

Largos e gigantescos caminhos dividiam aquela planície em vastíssimos jardins de indescritível beleza, todos repartidos em bosquezinhos, prados e canteiros de flores, de formas e cores variadas. Nenhuma das nossas plantas pode nos dar idéia daquelas, embora tenham com elas alguma semelhança. As ervas, as flores, as árvores, as frutas, eram vistosíssimas e de belíssimo aspecto. As folhas eram de ouro; os troncos e ramos, de diamante, correspondendo todo o resto a essa riqueza. Seria impossível contar as diferentes espécies; e cada espécie e cada indivíduo resplandecia com uma luz própria.

No meio daqueles jardins e em toda a extensão da planície eu contemplava incontáveis edifícios de ordem, beleza, harmonia, magnificência e proporções tão extraordinárias, que para a construção de um só deles me parecia não seriam suficientes todos os tesouros da terra.

Eu dizia para mim mesmo: "Se meus meninos tivessem uma destas casas, como gozariam, que felizes seriam e com quanto gosto viveriam nela!" Isto pensava eu vendo externamente os palácios. Qual não deveria ser sua magnificência interior!

Enquanto contemplava extasiado tão estupendas maravilhas que adornavam aqueles jardins, eis que chega a meus ouvidos uma música dulcíssima, de tão agradável e suave harmonia que nem posso dela dar-vos adequada idéia. As músicas do Padre Cagliero e de Dogliani nada têm de musical se comparadas àquela! Eram cem mil instrumentos, produzindo cada qual um som diverso do outro, enquanto todos os sons possíveis difundiam pelos ares suas ondas sonoras. A estes, somavam-se os coros de cantores.

Vi então uma multidão de pessoas que se encontrava naqueles jardins e se regozijava alegre e contente. Uns tocavam, outros cantavam. Cada voz, cada nota, produzia efeito de mil instrumentos reunidos, todos diferentes uns dos outros. Ao mesmo tempo ouviam-se os diversos graus da escala harmônica, desde os mais baixos até os mais agudos que se possam imaginar, mas todos em perfeita harmonia. Ah! para descrever-vos tal harmonia não bastam comparações humanas.

Via-se, pelo rosto dos felizes habitantes do jardim, que os cantores não só experimentavam extraordinário prazer em cantar, mas ao mesmo tempo sentiam imenso gozo em ouvir cantar os demais. Quanto mais um cantava, mais se lhe acendia o desejo de cantar, e quanto mais ouvia, mais desejava ouvir.

Era isto o que cantavam:

Salus, honor; gloria Deo Patri omnipotenti!.., Auctor saeculi, qui erat, qui est, qui venturus est iudicare vivos et mortuos in saecula saeculorum [Saudação, honra e glória a Deus Pai onipotente! Autor do século, que era, que é e que virá a julgar os vivos e os mortos para todos os séculos dos séculos].

Enquanto ouvia atônito essa celestial harmonia, vi aparecer uma imensa multidão de jovens, muitos dos quais eu conhecia, pois tinham estado no Oratório e nos outros nossos colégios; mas me era desconhecida a maior parte. A multidão interminável se dirigia a mim. À sua frente vinha Domingos Sávio, e logo atrás dele vinham Padre Alasonatti, Padre Chiala, Padre Giulitto e muitos sacerdotes e clérigos, cada um deles conduzindo uma seção de jovens.

Eu me perguntava a mim mesmo:"Estou dormindo ou estou acordado?" Batia as mãos uma na outra e me tocava no peito, para certificar-me de que era realidade o que via.

Chegada diante de mim toda aquela multidão, parou à distância de oito ou dez passos. Brilhou então um relâmpago de luz mais viva; cessou a música e fez-se um silêncio profundo. Todos os jovens estavam tomados pela maior alegria, que lhes transparecia no olhar, e em seus rostos se via a paz de uma felicidade perfeita. Olhavam-me com um suave sorriso nos lábios e parecia que desejavam falar, mas não falavam.

Adiantou-se Domingos Sávio só, alguns passos, e ficou tão próximo a mim que se eu tivesse estendido a mão certamente o teria tocado. Calava-se e me olhava sorrindo. Que belo estava! Suas vestes eram realmente singulares. Caía-lhe até os pés uma túnica alvíssinia, coberta de diamantes e toda bordada de ouro. Cingia-lhe a cintura uma ampla faixa vermelha recamada com tantas pe dras preciosas que uma quase tocava a outra; e se entrelaçavam em desenho tão maravilhoso, apresentando tanta beleza de cores, que eu, ao vê-lo, me sentia fora de mim pela admiração. Pendia-lhe do pescoço um colar de flores raras, mas não naturais; parecia como se as pétalas fossem de diamantes unidos entre si sobre hastes de ouro; e assim era tudo o mais. Essas flores refulgiam com luz sobre-humana mais viva que a do sol, que naquele instante brilhava com todo o esplendor de uma manhã de primavera. Elas refletiam seus raios sobre o rosto cândido e corado de modo indescritível, dando-lhe uma luz de modo tão singular que nem se distinguiam bem suas várias espécies. A cabeça, tinha-a cingida com uma coroa de rosas; os cabelos caíam-lhe sobre os ombros em ondulantes cachos, dando-lhe um ar tão pulcro, tão afetuoso, tão encantador, que parecia... parecia... um Anjo!

Ao pronunciar estas últimas palavras, parecia que Dom Bosco estava fazendo grande esforço para encontrar as expressões adequadas; e o fez com um gesto indescritível e um tom de voz que comoveu a todos; pareceu ter-se cansado nesse esforço para encontrar os termos que exprimissem inteiramente sua idéia. Após breve pausa, prosseguiu:

Também resplandeciam de luz todos os outros que o acompanhavam. Vestiam-se de modos diversos, mas sempre maravilhosos; uns mais, outros menos ricos; uns de uma, outros de outra forma; num, dominava determinada cor; noutro, dominava outra; e cada uma das vestes tinha um significado que ninguém saberia compreender. Mas todos tinham na cintura uma faixa vermelha.




Eu continuava a observar e pensava: Que significará isso? Como vim parar neste local?... E não sabia onde me encontrava. Fora de mim, temeroso pela reverência que tudo aquilo me inspirava, não me atrevia a dizer nada. Também os outros continuavam silenciosos. Por fim, Domingos Sávio abriu a boca.

- Por que estás aí mudo e como que aniquilado? Não és mais aquele homem que de nada tinhas medo, que enfrentavas intrépido as calúnias, as perseguições, os inimigos, as angústias e os perigos de toda espécie? Onde está tua coragem? Por que não falas?

A duras penas respondi, quase balbuciando:

- Não sei o que dizer... Mas, não és tu Domingos Sávio?

- Sim, sou; já não me reconheces?

- E como te encontras aqui? – acrescentei, sempre confuso.

Sávio então respondeu com afeto:

- Vim aqui para falar-te. Tantas vezes nos falamos na Terra! Não recordas quanto me amavas, quantas provas de amizade e quantas demonstrações de benevolência me deste? E eu por acaso não correspondi a teus desvelos? Como era grande minha confiança em ti! Por que, então, tremes? Coragem! pergunta-me alguma coisa.

Recobrando então ânimo, lhe disse:

- Tremo, porque não sei onde me encontro.

- Estás no local da felicidade – respondeu Sávio – onde se gozam todas as alegrias, todas as delícias.

- É este, pois, o prêmio dos justos?

- Não, por certo. Aqui não se gozam os bens eternos, mas só, ainda que em medida grande, os temporais.

- Mas então são naturais todas essas coisas?

- Sim, se bem que embelezadas pelo poder de Deus.

- E a mim, que me parecia que isto era o Paraíso! – exclamei.

- Não, não, não! – respondeu Sávio. Nenhum olho mortal pode ver as belezas eternas.

- E essas músicas – prossegui perguntando – são as harmonias de que gozais no Paraíso?

- Não, não, já te disse que não!

- São sons naturais?

- Sim, são sons naturais, aperfeiçoados pela onipotência de Deus.

- E esta luz que sobrepuja a luz do sol, é luz sobre natural? É a luz do Paraíso?

- É luz natural, embora avivada e aperfeiçoada pela onipotência divina.

- E não se poderia ver um pouco de luz sobrenatural?

- Ninguém pode vê-la enquanto não chegue a ver a Deus sicut est [como Ele é]. O menor raio dessa luz tira na no mesmo instante a vida de um homem, porque não é suportável pelas forças humanas.

- E poderia haver uma luz natural ainda mais bela do que esta?

- Se soubesses! Se visses somente um raio de luz natural elevada a um grau superior a este, ficarias fora de ti.

- E não se pode ver ao menos um raio dessa luz de que falas?

- Sim, podes vê-lo; terás a prova do que te digo; abre os olhos.

Já os tenho abertos – respondi.

- Olha bem no fundo desse mar de cristal.

Levantei a vista, e apareceu de repente no céu, a uma distância imensa, uma instantânea centelha de luz, sutilíssima como um fio, mas tão brilhante, tão penetrante, que meus olhos não puderam resistir. Fechei-os e lancei um grito tão forte que despertou o Padre Lemoyne (aqui presente), que dormia num quarto próximo. Assustado, ele me perguntou na manhã seguinte o que me acontecera de noite, para estar assim tão agitado. Aquele fiozinho de luz era cem milhões de vezes mais claro que o sol, e seu fulgor bastaria para iluminar todo o universo criado.

Após alguns instantes, consegui abrir os olhos e perguntei a Domingos Sávio:

- E isso que vi, será talvez um raio divino?

Sávio respondeu:

- Não é luz sobrenatural, se bem que, comparada com a terrestre, seja tão superior em brilho. Não é senão luz natural, assim avivada pelo poder de Deus. E ainda que imaginasses uma imensa zona de luz semelhante à centelhazinha que viste lá no fundo rodeando todo o mundo, nem por isso formarias para ti uma idéia dos esplendores do Paraíso.

- E vós, de que gozais, pois, no Paraíso?

- Ah! É impossível dizer-te. O que se goza no Paraíso nenhum homem mortal pode sabê-lo enquanto não deixar esta vida e se reunir a seu Criador. Basta dizer que se goza ao próprio Deus.

Entretanto, eu já me recobrara plenamente de meu primeiro aturdimento, e contemplava absorto a beleza de Domingos Sávio, e com franqueza lhe perguntei:

- Por que tens essa veste tão alva e deslumbrante? Calou-se Sávio, sem dar mostras de querer responder. Mas o coro retomou então suas harmonias e cantou, acompanhado de todos os instrumentos:

Ipsi habuerunt lumbos praecinctos et dealbaverunt stolas suas in san guine Agni [Eles tiveram os rins cingidos e purificaram suas vestes no sangue do Cordeiro].

- E por que – voltei a perguntar quando cessou o canto – essa faixa vermelha na tua cintura?

Tampouco desta vez Sávio respondeu, mas antes fez sinal de que não queria fazê-lo. Então, o Padre Alasonatti em solo se pôs a cantar:

Virgines enim sunt, et sequuntur Agnum quocumque ierit [São virgens e seguirão o Cordeiro aonde quer que vá].

Compreendi então que a faixa encarnada, cor de sangue, era símbolo dos grandes sacrifícios feitos, dos violentos esforços e do quase martírio sofrido para conservar a virtude da pureza; e que, para manter-se casto na presença do Senhor, ele teria estado pronto a dar a vida se as circunstâncias o houvessem requerido; e que também era símbolo das penitências, que limpam a alma da culpa. A brancura e o esplendor da túnica significavam a inocência batismal conservada.

Mas eu, atraído pelos cantos e contemplando todas aquelas falanges de jovens celestiais ordenados atrás de Domingos Sávio, lhe perguntei:

- E quem são estes que te rodeiam?

E, dirigindo-me aos demais, lhes disse:

- Como é que estais todos tão refulgentes?

Sávio continuou calado, e todos os jovens se puseram a cantar:

Hi sunt sicut Angeli Dei in caelo [Estes são como Anjos de Deus no Céu].

Notava entretanto que Sávio parecia ter preeminência sobre aquela multidão, que a respeitosa distância se encontrava, uns dez passos atrás dele; e então lhe disse:

- Diz-me, Sávio: sendo tu o mais jovem entre os muitos que te seguem e dos que morreram em nossas casas, por que vais tu assim adiante deles e os precedes? Por que és tu que falas e eles se calam?

- Eu sou o mais velho de todos.

- Não, muitos outros te superam em anos.

- Eu sou o mais antigo do Oratório – repetiu Domingos Sávio – porque fui o primeiro a deixar o mundo e ir à outra vida. Além disso, legatione Dei fungor [ pro mandado de Deus].

Essa resposta me indicava o motivo da visão. Ele era embaixador de Deus.

- Então – lhe disse – falemos do que neste instante mais nos importa.

- Sim, e pergunta-me logo o que ainda desejas saber. As horas passam, e poderia acabar o tempo que me foi concedido para falar-te; e já não mais me poderias ver.

- Ao que parece, tens algum assunto de suma importância para me comunicares.

- Que irei dizer-te eu, miserável criatura? – disse Sávio com profunda humildade. – Recebi do alto a missão de te falar, e por isso vim.

- Então – exclamei – fala-me do passado, do presente e do futuro de nosso Oratório. Fala alguma coisa de meus queridos filhos, fala de minha Congregação.

- A respeito desta, muito teria que te comunicar.

- Revela, pois, o que sabes: fala-me do passado.

- O passado recai todo sobre ti.

- Terei feito alguma das minhas... [faltas]?

- Quanto ao passado, digo-te que tua Congregação já fez muito bem. Vês lá abaixo aquele número interminável de jovens?

- Vejo-os – respondi. – Como são numerosos! E como parecem felizes!

- Pois olha o que está escrito na entrada do jardim.

- Está escrito Jardim Salesiano.

- Pois bem – prosseguiu Sávio – todos eles foram salesianos, ou foram educados por ti, ou contigo tiveram alguma relação, foram salvos por ti ou por teus sacerdotes e clérigos, ou por outros que encaminhaste pela via de sua vocação. Conta-os, se fores capaz. Seu número, porém, seria cem milhões de vezes maior se maiores tivessem sido tua fé e tua confiança no Senhor.

Lancei um suspiro, sem saber o que responder a tal reprimenda, mas disse de mim para comigo: daqui para a frente procurarei ter essa fé e essa confiança. Depois, perguntei:

- E o presente?

Sávio me apresentou um magnífico ramalhete que tinha nas mãos. Nele havia rosas, violetas, girassóis, gencianas, lírios, sempre-vivas e, entre as flores, espigas de trigo. Ofereceu-mo e disse:

- Observa!

- Vejo, mas nada entendo – respondi.

- Dá este ramalhete a teus filhos para que possam oferecê-lo ao Senhor quando chegar o momento; procura que todos o tenham; a ninguém lhe falte nem o deixe tirar. Podes estar certo de que com ele terão o suficiente para ser felizes.

- Mas, que significa esse ramalhete de flores?

- Consulta a Teologia; ela te dirá e te dará a explicação.

- A Teologia, estudei-a eu, mas não saberia como tirar dela o significado do que me apresentas.

- Pois tens estrita obrigação de saber tudo isso.

- Vamos, tira-me da minha ansiedade, explica-me tu!

- Vês estas flores? Representam as virtudes que mais agradam ao Senhor.

- Quais são?

- A rosa é símbolo da caridade; a violeta, da humildade; o girassol, da obediência; a genciana, da penitência e da mortificação; as espigas, da comunhão freqüente; o lírio indica a bela virtude da qual está escrito: Erunt sicut Angeli Dei in caelo, a castidade. E a sempre-viva significa que todas essas virtudes devem durar sempre, ela simboliza a perseverança.

- Ora bem, meu caro Sávio: tu, que durante toda a tua vida praticaste todas essas virtudes, diz-me: o que foi que mais te consolou na hora da morte?

- Que te parece que possa ser? – respondeu Sávio.

- Foi talvez ter conservado a bela virtude da pureza?

- Não; não é só isso.

- Alegrou-te talvez teres a consciência tranqüila?

- Isso é bom, porém não é o melhor.

- Por acaso teu consolo terá sido a esperança do Paraíso?

- Também não.

- Pois então! O haver entesourado muitas boas obras?

- Não, não!

- Então, qual foi teu consolo na última hora? – perguntei, entre confuso e suplicante, vendo que não conseguia adivinhar seu pensamento.

- O que mais me confortou no transe da morte foi a assistência da poderosa e amável Mãe do Salvador. Diz isto a teus filhos: que não se esqueçam de invocá-La em quanto estão em vida. Mas, se queres que possa responder-te mais algo, apressa-te!

- Quanto ao futuro, que me dizes?

- Com respeito ao futuro, no próximo ano de 1877 terás que sofrer uma grande dor; seis mais dois dos que te são mais caros serão chamados por Deus à eternidade. Mas consola-te, pois serão transplantados do campo do mundo para os jardins do Paraíso. Serão coroados. Não temas, O Senhor te ajudará e te mandará outros filhos igualmente bons.

- Paciência! E no que se refere à Congregação?

- No tocante à Congregação, fica sabendo que Deus te prepara grandes acontecimentos. No ano próximo surgirá para ela uma aurora de glória tão esplêndida, que iluminará como um relâmpago os quatro cantos do mundo; do oriente ao poente, do sul ao norte. Grande glória lhe está preparada. Tu deves zelar para que o carro no qual vai o Senhor não seja afastado pelos teus fora de suas guias e de seus caminhos. Se teus sacerdotes o souberem bem conduzir e se forem dignos da alta missão que lhes foi confiada, esplêndido será o futuro, e infinitas serão as pessoas que salvarão. Mas com uma condição: que teus filhos sejam devotos da Santíssima Virgem e saibam, todos os que vivam em tua casa, conservar a virtude da castidade, tão agradável aos olhos de Deus.

- Queria agora que me falasses algo sobre a Igreja em geral.

- Os destinos da Igreja estão nas mãos de Deus Criador. O que Ele determinou em seus infinitos decretos não te posso revelar. Tais arcanos reserva-os Ele exclusivamente para Si, e deles não participa nenhum dos espíritos criados.

- E sobre Pio IX?

- O que posso dizer-te é que o Pastor da Igreja não terá que sustentar ainda longos combates nesta terra. Poucas são as batalhas que ainda lhe resta vencer. Dentro de pouco será arrebatado de seu trono e o Senhor lhe dará a merecida recompensa. O resto já é bem sabido. A Igreja não perece... Tens ainda algo que perguntar?

E quanto a mim? – lhe disse.

Oh! se soubesses por quantas vicissitudes terás ainda que passar!... Mas apressa-te, porque muito pouco tempo me resta para falar contigo.

Estendi então com ardor as mãos para segurar aquele santo filho; mas suas mãos pareciam aéreas e nada pude tocar.

Que loucura! Que estás fazendo? – me disse Sávio sorrindo.

Temo que te vás – exclamei —. Mas, não estás aqui com teu corpo?

Com o corpo, não. Recuperá-lo-ei no último dia.

Mas, que são, então, esses traços que me fazem ver em ti a figura de Domingos Sávio?

Quando por permissão divina uma alma separada do corpo aparece diante de algum mortal, apresenta-se com a forma exterior do corpo que em vida animou, com todas as suas feições exteriores, embora muito embelezadas, e assim as conserva até que volte a unir-se a ele, no dia do Juízo Universal. Então o levará consigo para o Paraíso. É por isso que te parece que tenho mãos, pés e cabeça; mas tu não podes segurar-me porque sou puro espírito. Esta é só uma forma exterior pela qual me podes conhecer.

Compreendo – respondi – mas escuta. Ainda uma pergunta? meus jovens estão todos no reto caminho da salvação? Diz-me alguma coisa para que possa bem dirigi-los.

Os filhos que a Divina Providência te confiou podem ser divididos em três categorias. Vês estas três listas? Olha-as!

E me estendia uma.

Olhei a primeira; encabeçava-a a palavra invuinerati [ilesos], e continha o nome daqueles aos quais o demônio não pôde ferir, e que não mancharam a inocência com culpa alguma. Eram em grande número esses sadios, e os vi todos. A muitos já conhecia, outros era a primeira vez que via, e certamente virão ao Oratório nos anos futuros. Caminhavam direitos por um caminho estreito, apesar de serem alvo de flechas, espadagadas e lançaços que por todos os lados choviam sobre eles. Essas armas formavam como que uma sebe ao longo das duas bordas do caminho, e os combatiam e molestavam sem entre tanto feri-los.

Então Sávio me deu a segunda lista, cujo título era Vulnerati [feridos], ou seja, os que haviam estado na desgraça de Deus mas, uma vez postos em pé, haviam curado suas feridas arrependendo-se e confessando-se. Eram em maior número que os primeiros, e haviam sido feridos no sendeiro da vida pelos inimigos que os flanqueavam durante sua viagem. Li a lista e vi todos. Muitos iam curvados e desanimados.

Sávio tinha ainda na mão a terceira lista. Encabeçava-a a epígrafe: Lassati in via iniquitatis [caídos na via da iniqüidade]. Nela estavam escritos os nomes dos que estavam na desgraça de Deus. Eu estava impaciente para conhecer o segredo, pelo que estendi a mão. Mas Sávio me disse com vivacidade:

Não, espera um momento e ouve. Se abrires essa folha, dela sairá um tal mau cheiro que nem tu nem eu poderemos suportar. Os Anjos têm que se retirar com asco e horror, e o próprio Espírito Santo sente repugnância pela horrível hediondez do pecado.

Mas como pode ser isso – observei – se Deus e os Anjos são impassíveis? Como podem sentir o mau cheiro da matéria?

Quanto melhores e mais puras são as criaturas, tanto mais se acercam aos espíritos celestiais; pelo contrário, quanto pior, mais desonesto e torpe é alguém, tanto mais se afasta de Deus e dos Anjos, os quais, por sua vez, se afastam dele, que se converteu num objeto de náusea e repugnância.

Passou-me então a terceira lista.

Toma-a – disse – abre-a e aproveita-te dela para o bem de teus jovens; mas não te esqueças do ramalhete que te dei; que todos o tenham e conservem.

Isto dito, e depois de entregar-me a lista, retirou-se apressadamente, em meio de seus companheiros, quase como se estivesse fugindo de algo.





Abri então a lista; não vi nenhum nome, mas no mesmo instante me foram apresentados de chofre todos os indivíduos nela escritos, como se na realidade eu visse suas pessoas. Com quanta tristeza os contemplei a todos! A maior parte eu conhecia e pertencem ao Oratório e aos outros colégios. Vi muitos que parecem bons, que parecem até os melhores dentre os companheiros, e sem embargo não o são!

Mas, no ato de abrir a folha, espalhou-se em redor um mau cheiro tão insuportável, que imediatamente me vi assaltado por terrível dor de cabeça e por tais ânsias de vômito que me parecia estar morrendo. Obscureceu-se entretanto o ar, e nisso desapareceu a visão, nada mais eu vendo do maravilhoso espetáculo. Ao mesmo tempo ziguezagueou um raio e ressoou um trovão no espaço, tão forte e terrível que acordei sobressaltado.

O mau odor penetrou nas paredes e infiltrou-se em minhas vestes de tal forma que, muitos dias depois, ainda me parecia sentir a pestilência. De tal modo é fétido ante os olhos de Deus até mesmo o nome do pecador! Agora mesmo, só de recordar aquele mau odor me vêm calafrios, sinto-me sufocado e se me revolve o estômago.

Em Lanzo, onde me achava, comecei a interrogar de cá e de lá alguns rapazes, e pude certificar-me de que o sonho não me havia enganado. É, pois, uma graça do Senhor, que me deu a conhecer o estado de alma de cada um de vós; mas disso nada direi em público. Muitas outras explicações ainda haveria que dar, mas reservo-as para uma outra noite. Por ora, só me resta desejar-vos uma boa noite.

O fato de, no sonho, ter visto como maus certos jovens que eram geralmente considerados os melhores da casa, fez com que Dom Bosco de início suspeitasse ter sido apenas uma ilusão. Foi por isso que, prudente mente, começou chamando alguns para uma conversa particular; queria certificar-se bem da natureza do sonho. Por esse mesmo motivo, não se apressou a narrar logo o sonho, mas esperou uns 15 dias. Só falou quando se sentiu bem seguro de que a coisa provinha mesmo do Alto.

O tempo ainda haveria de lhe trazer outras confirmações das profecias ouvidas.

A primeira delas, e a mais importante, dizia respeito ao número de seus filhos que morreriam no ano de 1877, discriminados em dois grupos: seis mais dois. Ora, naquele ano efetivamente os registros do Oratório assinalaram com a costumeira cruz, sinal de falecimento, os nomes de seis meninos e dois clérigos.

A segunda profecia anunciava para a Sociedade Salesiana, em 1877, uma aurora tão esplêndida que faria luz sobre os quatro Cantos do mundo. Com efeito, naquele ano fizeram entrada, no panorama da Igreja, a associação dos Cooperadores Salesianos e o Boletim Salesiano. Eram duas instituições que haveriam de levar até os confins da Terra o conhecimento e a prática do espírito de Dom Bosco.

A terceira profecia dizia respeito ao final não distante da vida de Pio IX. Este efetivamente deixou de viver catorze meses decorridos do sonho.

A última profecia foi amarga para Dom Bosco: "Oh! se soubesses por quantas vicissitudes terás ainda que passar!" Realmente, nos onze anos e dois meses que ainda durou sua vida, lutas, fadigas e sacrifícios não lhe deram trégua até o último momento.

A delegacia de polícia de Borgo Dora era, quando do sonho, regida por um senhor que tinha diversos conhecidos no Oratório. Tendo ouvido narrar o sonho, ficou muito impressionado com a previsão das oito mortes. Durante todo o ano de 1877 observou com atenção se a previsão realmente se cumpria. Quando soube que no último dia do ano se realizara o oitavo óbito, resolveu abandonar o mundo, fez-se salesiano e trabalhou muito, na Itália e também na América. Foi o Padre Angelo Piccono, cujo nome permanece ainda na memória de muitos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Demônio existe?





Não há dúvida sobre isso, ele existe. A Igreja diz que sim; e esta realidade é atestada pela Bíblia, pela Tradição dos Apóstolos e pelo Magistério sagrado da Igreja. Os santos confirmam a existência dele também. Não há um só santo que não tenha acreditado no demônio. Seria preciso destruir a Igreja e o Cristianismo, desde as suas raízes, para negar a existência do demônio.

No entanto, inacreditavelmente, ainda encontramos pessoas na Igreja, mesmo sacerdotes e teólogos que, em oposição ao que a Igreja ensina, têm a coragem e a desonestidade de ensinar que satanás não existe. É uma grande e terrível heresia. Por isso mesmo, em 15/11/1972 em uma Audiência, Papa Paulo VI fez a famosa Alocução "Livrai-nos do mal", na qual falou da existência do demônio e de sua ação perversa.

O saudoso Sumo Pontífice começou perguntando: “Atualmente, quais são as maiores necessidades da Igreja?” E ele mesmo responde: “Não deveis considerar a nossa resposta simplista, ou até supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa daquele mal, a que chamamos demônio”. Paulo VI mostra que a realidade do pecado é uma ação perversa deste mal; “o efeito de uma intervenção, em nós e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimigo, o demônio. O mal já não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa e medonha”. E deixou claro que estão em desacordo com o ensinamento da Igreja todos aqueles que negam a existência do demônio:

“Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos e eclesiásticos quem se recusa a reconhecer a existência desta realidade; ou melhor, quem faz dela um princípio em si mesmo, como se não tivesse, como todas as criaturas, origem em Deus, ou a explica como uma pseudo-realidade, como uma personi­ficação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças”.

O mesmo Papa afirma que o demônio é a origem de todo o pecado que entrou no mundo: “O demônio é a origem da primeira desgraça da huma­nidade; foi o tentador pérfido e fatal do primeiro pecado, o pecado original (cf. Gn 3; Sb 1,24). Com aquela falta de Adão, o demônio adquiriu um certo poder sobre o homem, do qual só a redenção de Cristo nos pode libertar”.



“Ele é o pér­fido e astuto encantador, que sabe insinuar-se em nós atra­vés dos sentidos, da fantasia, da concupiscência, da lógica utópica, ou de desordenados contatos sociais na realização de nossa obra, para introduzir neles desvios, tão nocivos quanto, na aparência, conformes às nossas estruturas físicas ou psíquicas, ou às nossas profundas aspirações instintivas”.

“Ele é o inimigo número um, o tentador por excelência. Sabemos, portanto, que este ser mesquinho, perturbador, existe realmente e que ainda atua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história humana”.

Paulo VI ensina que nem todo pecado é obra direta do demônio, mas lembra-nos que “aquele que não vigia, com certo rigor moral, a si mesmo (cf. Mt 12,45; Ef 6,11), se expõe ao influxo do “mysterium iniquita­tis”, ao qual São Paulo se refere (2Ts 2,3-12) e que torna pro­blemática a alternativa da nossa salvação”.

O maior serviço que alguém pode prestar ao demônio é ensinar que ele não existe; assim, os fiéis não se defendem contra ele, e se tornam suas vítimas fáceis.




Felipe Aquino

felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias". Saiba mais em Blog do Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br

terça-feira, 5 de abril de 2011

Namorando... Bom é Amar... Deus...





Uma prova de amor
Quem exige tal comprovação apenas confirma sua imaturidade


Para saber se existe amor entre duas pessoas não é necessário fazer alguns testes. Um relacionamento verdadeiro não altera nosso organismo a ponto de algo ser detectado num exame laboratorial, nem pode ser medido pela quantidade de presentes valiosos que recebemos. Podemos nos encantar com a beleza de alguém, mas seus atributos e sua performance na intimidade não nos garantem que tal pessoa seja aquela que esperamos ser o (a) esposo (a) perfeito (a).

Quando compramos um produto, queremos nos certificar da garantia de qualidade desse item que estamos levando para casa. Contudo, num relacionamento a dois, a garantia de estarmos sendo correspondidos não se dará por meio de loucas manifestações de amor em público ou da pressão psicológica do namorado que insiste em querer uma “prova de amor”. Qualquer proposta que desrespeite os direitos da outra pessoa apenas reforça a imaturidade do relacionamento e também da pessoa que exige tal comprovação. Há outras maneiras de provar que amamos alguém sem usar as palavras ou forçar uma situação na qual apenas um seja beneficiado.

A atenção e o zelo pelo outro tendem a colocar a pessoa amada sempre em primeiro lugar. Entre casais que dizem se amar não pode haver sentimentos ou atitudes de egoísmo. Há namorados que poderiam afirmar milhões de vezes amar a namorada, entretanto, nem sempre seus gestos refletem o que é falado, pois, com atitudes, muitas vezes, grosseiras, expõem-na a situações vexatórias, tanto em gestos como em palavras. Alguns nem mesmo se preocupam em reservar momentos oportunos para tratar de assuntos que dizem respeito somente ao casal. Em algumas circunstâncias, tratam a pessoa amada como alguém sem direito a expressar sua vontade ou opinião. Há outros ainda que tentam convencer a namorada de que, para provar o seu amor, eles deveriam viver a intimidade.

Um namorado honesto não vai exigir da namorada nada em troca para que ele possa amá-la ou respeitá-la ainda mais.

Se o namorado deseja provar seu amor para a namorada ou vice-versa, penso que melhor seria, para ambos, aprenderem a ser suportes um para o outro, especialmente quando a pessoa amada não estiver vivendo uma boa fase em sua vida. Que o casal de namorados saiba ouvir ou procure entender o momento que o (a) outro (a) está vivendo ou, se for necessário, até mesmo adverti-lo (a) quando houver divergência de opiniões; porque nem sempre ele ou ela é o dono da verdade. Quem ama cuida e deseja o melhor para o outro. Se uma correção pode ajudar no crescimento da pessoa, por que não fazê-la?

A prova de que somos realmente amados aparecerá no crescimento e na maturidade que o namoro traz para a nossa vida.

Parafraseando a amiga Márcia Cohen, a melhor prova de amor que alguém poderia conceder à namorada seria, primeiramente, provar que a ama não pedindo nada como comprovação ou troca.

Que os gestos de afabilidade e carinho sobressaiam e provem por si que você é a pessoa que a namorada esperava encontrar. Do contrário, ainda que fosse dada uma prova de amor, essa pessoa não seria a mais indicada com quem ela gostaria de fazer seus votos eternos para a vida conjugal.

Um abraço!


Dado Moura
contato@dadomoura.com

Dado Moura é membro aliança da Comunidade Canção Nova e trabalha atualmente na Fundação João Paulo II para o Portal Canção Nova como articulista. Autor do livro Relações sadias, laços duradouros
Outros temas do autor: www.dadomoura.com
twitter: @dadomoura
facebook: www.facebook.com/reflexoes

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Paixão, Apaixonado...Namoro...Você, Eu e Jesus Cristo.

Paixão, Apaixonado...Namoro...Você, Eu e Jesus Cristo.
É interessante, o estar apaixonado. As coisas parecem mudar e de fato elas mudam. Uma pessoa que entra em nossas vidas de uma forma tão especial que quando ela passa seu coração falta pular de dentro de você e segui o coração da pessoa amada. O amor.
O começo de um romance que é o ainda mais legal. “Não sei se ela gosta de mim”, “é melhor eu ficar na minha, ela é muito para mim e ela gosta de outro e nem liga para mim”. Falamos de tudo e até com todo mundo, mas nunca falamos com a pessoa de quem a gente gosta e é ai que podemos perder a grande chance de viver um Amor pro resto de nossas vidas. Temos que perder o medo de dizer nossos sentimentos, no máximo ela só vai dizer que não senti o mesmo. Sim, a tristeza bate, mas foi vencido um medo. Um grande Amor não é fácil de encontrar. O importante é sempre conhecer antes a pessoa, saber se ela é amiga, companheira, pois se não se conhecerem é possível ter um relacionamento muito rápido e com seqüelas que são perigosas e que pode ser passadas para outros relacionamentos.
Mas o estar apaixonado é muito bom, bom mesmo. Melhor ainda quando no meio dos corações apaixonados ter uma pessoa maior que elas e que rege os coração dos dois, essa pessoa é Jesus Cristo. Um relacionamento, seja ele qual for, sempre é melhor regido por aquele que inventou e que é próprio Amor. Antes de namorar é bom saber se isso é a vontade de Deus, ai vem o discernimento, o casal passa a orar para saber se é a vontade de nosso senhor ou se é só vontade da carne e com isso também os dois vão se conhecendo na graça do Espírito Santo.
Coisa boa mesmo é essa paixão a Três, você, a pessoa amada e Jesus Cristo. É o melhor, os dois tem que ter como meta maior a paixão por Jesus Cristo, Ele é o maior.

Thiago César Vaz de Sousa